Finalmente conheci minha inquilina: Diário de Gravidez em Portugal – O parto!
Foram meses de espera, de medos, anseios, incertezas, questionamentos…
Uma mistura de emoções e hormônios ( hormonas, como diriam em Portugal).
Sobre o parto? Fácil não foi, mas se fosse fácil não se chamaria parto, não é mesmo?
A experiência do parto é muito única. E falo isso em todos os sentidos: físicos, patológicos, psicológicos, expectativas da gestante, percepção da dor e muitos outros fatores que influenciam o “gran finale”.
Uma das questões que mais desespera grávidas e até acompanhantes é a questão da dor. No fundo todo desconhecido é uma descoberta à ser feita e dá certo medo. Mas por experiência própria, as variáveis do parto são em sua maioria controláveis.
A ciência avançou, o corpo da mulher vem mudando com o tempo, os tabus relativos à gravidez, ao puerpério e a amamentação estão caindo por terra e a própria grávida vem encontrando maneiras de se preparar física e psicologicamente.
Vou tentar dividir com você um pouco da minha experiência do parto contando das diferenças entre o atendimento público e privado e como foi minha gravidez em portugal.
Uma gravidez em Portugal, longe dos amigos, da família e dos pontos de apoio pode ser de todo difícil, então é preciso encontrar pontos que facilitem esse processo e a sensação que você tira de cada momento.
Conteúdo nesta publicação
Consulta a consulta
Já contei para vocês como é conseguir uma consulta para grávidas no serviço público de saúde em Portugal. E assim foi minha jornada! Durante toda gravidez fui acompanhada na Maternidade Alfredo da Costa em Lisboa e tenho muitos pontos positivos a ressaltar.
Fui acompanhada por uma excelente psicóloga, tem atendimento com nutricionista e tem assistente social.
Para conseguir o encaminhamento para a psicologia, a médica que seguiu a gravidez me perguntou se eu gostaria e se eu achava importante ser seguida por uma profissional específica de psicologia. Eu disse que sim, ela fez um pedido e eu fui marcar a primeira consulta. E adivinha? Só tenho elogios a fazer!
E ainda tem o curso preparatório pré-parto! É maravilhoso poder compartilhar dúvidas e anseios com outras mamães e com profissionais da área. Tive aulas com a psicóloga, com uma nutricionista, com dois anestesistas da maternidade, com a fisioterapeuta que ministra o curso e com outros profissionais ligados ao trabalho de parto.
Fizemos exercícios de treino para o parto e para ajudar na reta final da gravidez, também aproveitamos as bolas de pilates para praticar e ainda teve uma aula só para os pais para que eles participassem de cada momento e ajudassem as mamães de forma efetiva.
O mesmo curso em hospitais particulares custa em média 300 euros e a maioria dos seguros que consultei não cobrem.
No final da novela: Minha última consulta foi no fim das 38 semanas, quase 39, quando a médica fez o exame do toque e retirou o famoso tampão mucoso. Quando eu perguntei para a doutora: “E agora?” A resposta foi: “pode ser a qualquer momento.”
Isso numa bela quarta-feira de sol. Meu trabalho de parto começou às 5 da manhã do sábado, 24 de março…
Chegou a minha primavera, literalmente!
Na noite do dia 23, já estava à todo vapor nas atividades domésticas. Limpava casa, colocava roupa para lavar, caminhava, agachava e passava metade da tarde rebolando na bola de pilates assistindo Masterchef.
Fiz o jantar dançando: Fui de “É o Thcan” a Anitta. Muitos agachamentos e quadradinhos de 8. Às 5 da manhã, virei na cama e senti como se estivesse fazendo xixi nas calças…
Quando me levantei, jorrou um rio entre as pernas. Que emoção (ou não), a bolsa tinha rebentado.
E o que foi que eu fiz? Fui tomar banho, secar o cabelo, ligar para familiares, terminar as unhas… Se eu me arrumo para sair para uma festa cheia de pessoas desconhecidas, não vou me arrumar para receber minha filha?
Cheguei ao hospital às 7 da manhã com zero dilatação e zero contrações. No resumo da história porque foi literalmente longa: Foram mais de 15 horas em dilatação com remédios e ocitocina sintética na veia, 4 doses de epidural (anestesia) e um período de expulsão de cerca de 20 minutos com uso de ventosa.
Super ultra mega cansativo, não vou mentir! Mas fez eu me sentir a mulher mais forte e capaz do universo. ( Saiu, não saiu? Todo mundo sai de algum jeito!!)
Gravidez em Portugal: PRIVADO X PÚBLICO
No fritar dos ovos, minha gravidez em Portugal foi assim: Consultas, curso pré-parto e acompanhamento com psicóloga foi feito no público enquanto o parto e o internamento pós-parto foi feito no particular ou privado.
Então por que essa separação, Sabrina? Vou explicar meus motivos!
A principal razão pela qual optei pelo parto em um hospital privado foi a comodidade e a privacidade que o hospital particular oferece.
Quando falo em comodidade, estou incluindo o tratamento relativo às enfermeiras, médicos e profissionais envolvidos ( Infelizmente, na maioria das vezes só quando se paga, o tratamento é devido), quantidade de anestesias e boa vontade para ministrá-la em qualquer momento do trabalho de parto, atenção e informações fornecidas no pós-parto na internação e outros detalhes.
O Hospital da Luz
O Hospital da Luz é um hospital privado e muito bem conceituado em Portugal. Provavelmente se você pesquisar vai ouvir e ler relatos de pessoas que tiveram problemas com atrasos no atendimento, problemas com profissionais e outras questões rotineiras. O que eu tenho a dizer: Acontece!
Tanto no público quanto no privado vamos encontrar bons e péssimos profissionais. Não tem jeito. E pelo que percebi, não sei se é assim que funciona, mas pareceu que os setores de atendimento são administrados por gestões diferentes.
Inclusive já fui à primeira consulta com a pediatra da Letícia e foi 1 hora de atraso. Contudo gostamos muito da pediatra e ela foi bem atenciosa. Fizemos também o retorno do rastreio auditivo, nós chegamos atrasados e mesmo assim fomos chamados de imediato.
Em outro episódio fomos á emergência, que normalmente é mais caótica e demorada, e a prioridade para bebês recém nascidos foi respeitada, o atendimento foi rápido e bem eficaz.
Durante o meu internamento, cruzei com excelentes enfermeiras, uma senhora da equipe da limpeza muito simpática e que viu minha sensação de espanto com tanta novidade e ainda conversou comigo contando a experiência dela.
Por outro lado encontrei uma senhora da equipe de alimentação que não foi nada, nada, nada simpática. Bad vibes total!
No resumão, foi uma experiência muito boa!
Pontos a ponderar
Um dos aspectos mais importantes de optar por ser seguida no público e ganhar no particular é não ganhar com a médica que te seguiu, a não ser que você seja seguida também no particular ou que a médica trabalhe para ambos.
E ser seguida no particular significa pagar tudo, inclusive o curso pré-parto que já falei aqui dos valores ( mais ou menos 300 euros).
Outro ponto muitooooo importante é ter em conta os recursos que os hospitais públicos têm. Não cheguei a precisar de recurso nenhum a não ser a ventosa, que é um material comum de ser usado no parto. Ou seja, nem mesmo as instalações básicas de neonatal foram necessárias.
Mas tenha em consideração os recursos e os valores desses recursos no particular, caso sua gravidez seja de risco ou você apresente alguma alteração no seu quadro de saúde, recomendo ponderar um bom hospital público com recursos disponíveis.
A média de preço do parto normal ( Ventosa ou fórcepes) no hospitais particulares onde procurei estava entre os 4.000 mil e os 5.000 mil euros. Já para os partos cesariana cheguei a ver valores na casa dos 8.000 mil euros ( no próprio Hospital da Luz era o valor máximo da tabela).
Outra questão que só me dei conta após o parto é o auxílio que o bebê ou a mamãe possam vir a precisar.
Como assim? A Letícia nasceu com uso de uma ventosa e no público ela seria acompanhada pela fisioterapeuta da maternidade logo em seguida ao parto. No particular, tenho que pagar cada consulta e cada procedimento!
Para facilitar vou fazer um comparativo em forma de lista.
( Ou seja, viver uma gravidez em Portugal não precisa ser um drama!)
Curso pré-parto:
No público não paguei nada, só precisei dar meu nome para a lista tendo no máximo 26 semanas.
No particular os cursos rondam os 300 euros.
Horário de visita:
No hospital público, os horários de visita iam das 2 ás 4:30, só podendo subir 2 pessoas por vez.
Para o pai o horário de visita vai das 12:00 ás 22:00. No particular, as visitas são das 10:00 da manhã as 22:00 da noite e não há limite de pessoas para visita ( Contamos com o bom senso da galera!)
Acompanhante:
Tanto no particular quanto no público a mulher tem direito a uma acompanhante no momento do parto, não podendo ser alterado durante o procedimento. O pai fica ao lado da mãe em todo o tempo, inclusive o período da dilatação, indução, exames, consultas, aplicação da anestesia…tudo!
Objetos pessoais:
No público a mãe não entra com nada. Você precisará ter alguém para te levar para o parto e para o pós.
No particular você pode levar uma bolsa pequena que caiba em um pequeno armário ( Aqueles escaninhos – cacifo de metal, sabe?!). Você coloca as suas coisas e as do seu acompanhante e ele fica com a chave. Após o período do parto, volta lá e pega tudo para te levarem para o quarto.
Internamento:
No hospital público você pode dar a sorte de ficar no quarto com mais uma ou duas pessoas, mas a média é de 5 e sem acompanhante em tempo integral. Porque né?! Imagina se cada mulher ficar com um acompanhante no quarto todo tempo? Vira festa no quarto do hospital! ( Esse foi um dos pontos que mais pesou na minha escolha em “ter” no particular!)
No particular fiquei sozinha no quarto! ( Ohooo glória!). Confesso que foi a melhor decisão que eu poderia ter tomado.
Algumas mães preferem estar acompanhadas, principalmente para não se sentirem sozinhas. Compreendo, mas a parte de ter um espaço só meu naquele momento de muitas descobertas fez toda diferença. Preferi preservar minha individualidade e privacidade. Além do mais, o meu acompanhante poderia dormir comigo pagando o valor de 60 euros a noite (CaronéBraziiil).
O que para mim não fazia sentido já que o pai poderia entrar as 8 da manhã no hospital e sair as 22 e eu estava bem de saúde, conseguia andar e tomar banho sozinha e Letícia comportou-se muito bem. Tem também uma tela multifuncional no quarto que acessa a internet, tem vários canais de TV a cabo para você passar a madrugada amamentando e vendo filme ou série, tem uma linha telefônica junto e é bem prática porque ela é móvel e vai circulando pela cama. Além do Wi-fi no hospital!
Legenda dessa foto: Gravidez em Portugal, como ficar cansada, feliz, preocupada e emocionada. Tudo ao mesmo tempo!
Documentação:
No Hospital da Luz já pude sair de lá com o cartão de cidadão dela pronto ( Bilhete de identidade português que contém os principais dados, como nome dos pais, número da segurança social, número de utente da saúde pública e NIF – nosso CPF). O espaço funciona de segunda a sexta e você já sai de lá com o registro de nascimento e com o pedido de emissão do CC – Cartão de cidadão. No público sei que você sai com o registro de nascimento (Né) mas não tenho certeza se já sai com o pedido do CC.
Alimentação:
No público você pode escolher entre duas opções e tem sopa, prato principal, pão e fruta. Quanto à qualidade não posso dizer o que acho, não experimentei!
No particular, assim que cheguei ao quarto, uma enfermeira foi com uma lista me perguntar quais as opções eu queria até o fim da estadia. Eram 4 opções para cada refeição (almoço e jantar) e todas elas diferentes para os 2 dias de internamento previstos. Sopa, prato e sobremesa e ainda pude escolher entre 3 opções de sobremesa ( Rolou até fatia de brigadeiro branco com coco, pudim, frutas e outras opções muito boas). Também tive café da manhã e café da tarde.
Neo-natal:
Um dos pontos importantes quando pensar em viver uma gravidez em Portugal é pensar no Neo-Natal e na estrutura do mesmo. No público caso seu baby precise ficar internado você não paga por isso.
No particular os cuidados neonatais são pagos à parte fora do preço do parto. No meu seguro-convênio funciona assim: Eu precisaria registrar um novo procedimento, uma nova especialidade e aí sobre ela o seguro iria calcular a porcentagem referente aos cuidados neonatais para o bebê. Tendo em conta que o seguro é pelo trabalho do meu esposo, logo a pequena entra automaticamente. Em outros seguros pode não ser assim e você talvez tenha que pagar o valor total. Fique atenta sobre esses detalhes!
Outros pontos bem legais são os mimos que recebemos (cofcofpagamos) como um kit de produtos para bebês da marca Mustela ( são excelentes e nas lojas custam caro na minha humilde opinião).
A sala de dilatação é individual e separada do bloco operatório, ou da sala de parto como chamam. No dia seguinte ao parto as enfermeiras vieram ao quarto buscar a mãe e perguntaram se o pai queria acompanhar para dar o primeiro banho e para a vacina da Hepatite B. Atenção: Em Portugal a vacina da BCG só está sendo ministrada para bebês dentro de uma quadro de risco. A Letícia por exemplo foi vacinada porque sou brasileira e é um dos países incluídos nessa lista de risco. Converse com a enfermeira antes!
Sem falar em uma questão importante: A anestesia. Tomei 4 doses e em todo tempo a enfermeira deixava claro que o objetivo era um parto com o mínimo de dor possível e que eu poderia pedir a anestesia a qualquer momento sem exigência de tempo, dor ou dilatação mínima.
Gostou? Já passou pela experiência do parto em outro país? Quer saber mais sobre como é viver uma gravidez em Portugal?
Fala comigo que a gente compartilha figurinhas.
Se ainda não ganhou seu baby, desejo um bom parto e muitas alegrias.
E fica calma… tenta pelo menos! :hahaha 🙂
Uma hora pequenina como dizemos aqui na terrinha!
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